sábado, 10 de agosto de 2013

PARACAMBANA I


Muito tempo sem escrever. Seguem anotações preliminares sobre o "Paracambana". Muitas leituras. Eventuais imprecisões e incorreções são responsabilidade exclusiva minha. Em breve, mais, inclusive bibliografia completa desse estudo.

OBSERVAÇÕES PRELIMINARES SOBRE O PARACAMBANA 

O termo "Paracambana" refere-se a um grupo de estudos filológicos brasileiro, ou pelo menos sediado no Brasil, liderado pelo britânico Charles Herring Tann. O professor Tann, por sua vez, foi um estudioso de filologia da universidade de Oxford (havendo forte possibilidade inclusive dele ter sido aluno de J.R.R. Tolkien) que durante os anos 1960 abdicou muito cedo de sua cátedra nas ilhas britânicas para vir morar Rio de Janeiro, após ter se casado com a brasileira então estudante de mitologia Magdalena Agnes de Castro. O ano exato da vinda de ambos é desconhecido, bem como a atividade profissional dos dois nos primeiros anos no Brasil, embora seja razoavelmente um consenso que eles tenham se estabelecido em um apartamento da familia de Magdalena na rua Dois de Dezembro.

O que se sabe com certeza é que em 1968, na rua Benjamin Constant n° 74 (Glória),  numa sala de formato hexagonal situada segundo andar do prédio em que ainda hoje funciona a igreja positivista de Augusto Comte, já se reunia em segredo o grupo filológico "Paracambana", coordenado pelo professor Tann. A razão do sigilo do grupo é desconhecida, havendo uma quantidade significativa de pesquisadores que alegam que não passava de um charme. A maior parte das fontes epistolares indica, contudo, que Tann e seus companheiros faziam do estudo filológico apenas uma fachada e na verdade dedicavam-se à prática de rituais de "magia negra e ocultismo" (como em trecho da carta de J. Barrios para H. Hansen,, "comentários sobre o Paracambana", de 1969). Uma análise posteior desmonta a ideia de "fachada" ao situar o ocultismo como uma abordagem heterogênea da própria filologia. O famoso esoterista Paulo da Gama chega a afirmar no seu livro "A Influência de Crowley no Brasil" (Ed. Mythos, 1994) que:
"Tann concluiu, como Moore antes dele e De la Rosa antes de Moore, que a magia tem origem e fim na palavra. São todos partidários da ideia de que toda sentença é mágica, e o estudo da língua é indistinguível do estudo do sobrenatural, ideia que em sua forma vulgar traduz-se no ditado 'as palavras tem poder'. A palavra gera versão, e toda versão  não hegemônica é uma sub-versão, o que não passaria despercebido aos movimentos subversivos brasileiros pós 1968, que viram na chegada de Tann uma bandeira de agrupamento."

Em outro trecho, sobre a clandestinidade do grupo:

"O Paracambana agia (age) clandestinamente também para evitar querelas com grupos ocultistas rivais, como os Irmãos Esclarecidos, que se reuniam apenas uma rua adiante, no número 82 da rua Cândido Mendes."

 Ganha força a relação estabelecida por Gama entre ocultismo e subversão quando se descobre que a história do Paracambana se cruza com a do ainda não tão célebre coronel Sérgio Paranhos Fleury. O mesmo que exatamente naquele ano havia sido incorporado ao DOPS para se futuramente se tornar um dos mais inclementes perseguidores de subversivos durante o regime militar. O então jovem Fleury, apesar de atuar em São Paulo, enquadrou Tann na lei de segurança nacional assim que passou a integrar o DOPS, como atesta documento pertencente ao acervo pessoal do professor Junito Diniz (PUC- Rio). As causas do ato são desconhecidas, ainda mais sendo o professor Tann discretíssimo em suas posições políticas. A pesquisa do meu colega e amigo Bernardo Paes que analisou o fato de Paranhos e Magdalena (esposa de Tann) terem sido vizinhos na adolescência não chegou a resultados conclusivos sobre um eventual romance dos dois, ou platônico por parte de Fleury, desmotivando assim uma tese de motivações pessoais no enquadramento de Tann. 

Embora haja divergências sobre as razões do segredo do Paracambana, os resultados do mesmo são devastadores para a pesquisa. O grupo nada deixou em matéria de atas de reunião ou outras formas de registro doméstico, de modo que não se pode saber exatamente quem ou quantos eram os seus membros. O Paracambana deixou também pouquíssimo material registrando suas pesquisas, e o grupo não consta na bibliografia de nenhuma publicação na área de filologia que tenhamos notícia. Aparece laconicamente, apenas, nos agradecimentos do livro "Modulation Schwingungen musikalischen und politischen", de Rachel Weissberg (1939-1988). Uma única obra com intenção de publicação foi supostamente produzida pelo grupo (havendo inclusive quem diga que o Paracambana existiu somente em função de escrevê-la), o "Circa Ohmnia", porém desta nenhum exemplar de nenhum dos seus alegados quatro tomos jamais foi encontrado. Nesse momento, estou procurando pessoas familiarizadas com o navegador Tor para procurar ainda que trechos desse material na Deep Web (onde o número de referências ao Paracambana é substancialmente maior do que na surface web, que possui apenas os restos de uma página da wikipedia sobre o assunto já excluida).  Este e todo o conteúdo conhecido sobre o Paracambana, incluindo o que foi dito até aqui, foi obtido a partir da correspondência trocada pelo grupo com outros célebres filólogos do mundo, e entre estes mesmos filólogos tratando do grupo. Mais dessa correspondência também será abordado aqui nesse espaço em breve, espero.

 Há ainda um outro valioso registro, com o qual encerro esse texto preliminar. Embora menos confiável, é o mais saboroso. Trata-se do depoimento recolhido pelo Warren's Occult Museum com o professor Olímpio Ornelles, até hoje a única pessoa que alegou abertamente ter pertencido ao Paracambana. Quando foi entrevistado pelo curioso museu inglês, o professor já enfrentava o Alzheimer, além do câncer pulmonar que acabaria por matá-lo, e recusou-se ou foi incapaz de responder a maior parte das perguntas. Contou, não obstante, a sua versão para o suposto fim do grupo, em inglês fluente: 

"After a few years of study, in 1974, the Paracambana would launch simultaneously the four volumes of the first work signed by all of us collectively, "Circa Ohmnia", a review of the etymological origin of the words used throughout history to describe the idea of totality. The suggestive title, incidentally, it was my idea. It turns out that the graph where the book was being printed, which was in São Cristóvão, was burned on the night of April 14, as reported by the press. At the time, 'O Globo' wrote that the fire had been caused by the CCC (Communist Hunt Command), which had mistaken the four volumes of Circa Ohmnia with the national edition of "Capital" by Karl Marx, also in four volumes. However, given the high control exercised by the dictatorship in those days media, you can not trust it too much not. At the time, we did not believed. Because of all this distrust, we ended the collective activities of the group and each proceeded with studies the way it seemed better. Tann took a ship back do England and never wrote to us anymore."

 ("Após alguns anos de estudo, em 1974, o  Paracambana iria  lançar simultaneamente os quatro tomos da primeira obra assinada coletivamente por nós, "Circa Ohmnia", uma revisão da origem etimológica das palavras usadas ao longo de história para descrever a ideia de totalidade. O título sugestivo, aliás, foi ideia minha mesmo. Só que a gráfica em que o livro estava sendo impresso, que ficava em São Cristóvão, foi incendiada na noite de 14 de abril, deu no jornal e tudo. Na época, o Globo deu que o incêndio tinha sido provocado pelo CCC (Comando de Caça aos Comunistas), que havia confundido os quatro tomos de Circa Ohmnia com a edição  nacional de "O Capital", de Karl Marx, também de quatro tomos. Contudo, dado ao controle exercido pelo estado na mídia da época, não dá pra confiar muito nisso não. Na época, ninguém acreditou. Por causa desse clima de desconfiança geral, encerramos as atividades coletivas do grupo e cada um deu prosseguimento aos estudos da forma como pareceu melhor. Tann tomou um navio de volta pra Inglaterra e nunca mais escreveu.")

 O professor Olímpio formou-se em Literatura Inglesa pela UFRJ em 1965, e graduou-se doutor em 1985.  afora repetidamente afirmar que pertencera ao grupo, nunca mais deu detalhes sobre sua participação ou grau de envolvimento. Morreu em 1999, apenas dez meses depois da entrevista aqui citada.

 Por hoje é só! Continuei minha pesquisa tentando descobrir o porque da escolha do nome "Paracambana". Os dados que eu recolhi eu posto em breve!

2 comentários:

  1. cara, um professor meu lá da uff uma vez comentou sobre esse grupo, eu acho. Mas era relativo a umas atividades em manaus...

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  2. mais sobre a conexão manauara do Paracambana em breve. Tem inclusive a ver com uma das possíveis origens etimológicas do nome do grupo.

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