quarta-feira, 29 de junho de 2011

As entranhas de Ian- episódio 1

...pois é, pessoal, decidi voltar a postar aqui. Cansei da minha última tentativa de folhetim e resolvi começar esse outro. Como eu acho que o problema do último foi que eu bolei a história toda na minha cabeça antes, me cansando dela muito rápido, dessa vez resolvi voltar a fórmula de "Professor Olímpio contra o Horóscopo", meu primeiro folhetim: escrever erraticamente. Agora o protagonista é IAN, um poeta, cujo nome é inspirado no meu amigo Ian Capilé. Espero que gostem.

PRÓLOGO:

Quando a editora topou editar meu livro eu agi como Deus no Gênesis: olhei e vi que era bom. Depois, assim como Deus no episódio da arca, me arrependi. Incapaz de lançar um dilúvio na editora em questão, no entanto, tive que me contentar em salvar os exemplares do meu livrinho de poemas para colocar no quartinho da empregada aqui do meu apartamento, desde então apelidado de "arca de Nair". Nair é o nome da empregada. O meu é Ian.

INÍCIO MESMO:

Deixe eu re-escrever o parágrafo acima com menos metáforas e mais informações que tornem a história mastigadinhamente compreensivel: escrevi um livro, vejam só. Consegui uma editora que me prometeu publica-lo. Marinheiro de primeira viagem, no entanto, não me dei conta de que editar e distribuir fossem coisas diferentes. O que quer dizer que as letras miúdas do contrato que eu assinei diziam "claramente", se bem que nada escrito com tipo 7 é claro, que a editora não tinha obrigação nenhuma de colocar o livro pra vender na praça. O que na verdade explica por que eles cobraram adiantado de mim pra fazer a edição. O resultado desse mal-entendido, em que o editor foi mais mal do que eu fui entendido, foi que eu acabei com o quarto de minha empregada Nair abarrotado de livros que eu não fazia idéia de como fazer chegar às livrarias.

O entrave durou alguns meses. Minha primeira e imediata medida foi ir às maiores e mais respeitadas livrarias da cidade oferecendo meu produto, heroicamente levando exemplares do meu livro de porta em porta por entre os nobres templos do prazer. O resultado de minha peregrinação foi que em pouco tempo eu reuní material para escrever um novo livro, desta vez intitulado "As mais variadas formas de se dizer não a um escritor". Também comprei um exemplar de "Diário de um Banana" sugerido por um vendedor. Achei simpático.
Sem desistir, decidi entrar de cabeça na revolução digital e anunciar que estava vendendo meus livros no facebook. Fiz um cartaz usando o Paint, mandei os amigos curtirem... Cheguei a considerar uma campanha viral divulgando o meu livro que incluiria uma sex-tape minha com a Nair, mas na última hora achei que não seria bom propor isso para a mais intimidadora criatura que jamais andou dentro de um avental em toda a face da terra. Aliás, nos meus momentos antes de dormir, fico imaginando se Nair e o avental não são uma coisa só.

Sem a campanha viral, minhas vendas on line foram pífias. De admiravel nessa época só me lembro da disposição da minha mãe ao criar em torno de 15 perfis falsos na rede somente para comprar 15 exemplares diferentes do meu livro. Descobri isso depois de notar que ela colocara a mesma data de nascimento em todos os "fakes", além de que todos compartilhavam um estranho gosto por waldick Soriano. Minha mãe não é nenhum Fernando Pessoa com heterônimos, notei. Assim que dei pela coisa liguei pra ela agradecendo. mas dizendo que ela não precisava se preocupar, que logo o livro ia começar a vender bem. Foi surpreendente ouvir minha mãe gargalhar de novo, acho que a última vez em que ela riu assim foi na vez em que soltou um pum na casa da Tia Nicinha, no natal de 2000. Acho que deixei transparecer o quanto fiquei magoado com aquela gargalhada quando desliguei, por que ela nunca mais apareceu com nenhum perfil falso ou verdadeiro.

Meu desânimo só não tomou conta de mim nesse momento por que Nair escolheu bem essa época para considerar insustentável dividir quarto com 500 exemplares de "Entranhas", que era o título do meu livro. Num dia de faxina, em que eu providencialmente saí de casa para passear, a minha meiga secretária para assuntos domésticos discretamente abarrotou todo o meu quarto com eles. Quando eu cheguei e, depois de recuperado do choque, perguntei o motivo de tão intempestiva ação, ela mandou eu ficar quieto e não encher o saco, por que ela tinha muito serviço pra fazer. Não questionei. Desde esse dia, passei a dormir cercado pelas minhas próprias entranhas. A nojeira metafórica dessa constatação foi a conta. Decidi que era hora de tomar uma providência definitiva em relação à questão.

CONTINUA NO PRÓXIMO EPISÓDIO

segunda-feira, 13 de junho de 2011

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Paradoxo

Hoje conheci uma menina que se formou em biblioteconomia e foi trabalhar numa biblioteca especializada em re-seguros, que são os seguros que as seguradoras fazem para si mesmas. É, eu sei, eu vou até repetir pra você ficar tão bolado com o fato quanto ele merece. Re-seguros: São os seguros que as seguradoras fazem pra se segurarem, pra se assegurarem de que vão ser ressarcidas em caso de necessidade. Re- seguros, os seguros das seguradoras. Isso me tirou de uma depressão e me pôs em outra, rapaz: foi daí que eu me toquei que a minha vida é muito tranks, super bem obrigado, normal toda vida. A menina que eu conheci me disse (ou melhor, está me dizendo, escrevo enquanto ela conversa comigo) que o re-seguro é um negócio que movimenta bilhões de dólares por mês. Não milhões, ela enfatiza, BIlhões.

Diante disso, como não cair no lugar comum de dizer que somos pequenas peças, inconscientes do fato de ser engragens de um mundo grande demais para que o compreendamos? Tipo assim os caras que tomaram a pílula errada na Matrix? Como não pensar nas grandes conspirações dos maçons iluminatti da bavária, nas corporações do mal, nos vilões de James Bond com gatos no colo? Re-seguros! Lembro de uma empregada que minha familia teve quando eu era criança que tinha... uma empregada! Não sei se isso quer dizer alguma coisa, mas pelo menos a piração da minha vida particular acompanha a piração do mundo todo. O fato de eu escrever esse texto dentro de uma biblioteca me faz pensar no Borges, que eu acho que saberia rir disso tudo. Aqui tem um livro sobre revisão de textos, e eu estou com medo de olhar quem revisou o livro, sei lá, de repente minha cabeça pifa ainda mais. Não que eu não seja escolado nessas coisas: Quando eu era criança a minha casa tinha um lance que era assim: Um espelho numa parede e outro na parede oposta a ela, fazendo aquele jogo de reflexos infinitos. Cara, eu passava horas ali só vendo se conseguia enxergar onde ficava o último reflexo meu. Re - flexo. Re - seguro. Se eu fosse o Arnaldo Antunes eu fazia uma música com isso daí. Se eu fosse o Michel Melamed eu fazia uma daquelas peças-poemas.