domingo, 7 de março de 2010
Balada do cadaver
I
Está posto o cadáver
Numa simples cova rasa,
Mais feliz e mais saudável
Que em sua velha casa.
A essa sua casa antiga
Dava-se o nome "alma",
Teto só de angústia e briga
Contrastante com a calma
De sua nova condição:
Serníssima e feliz
De enterrado sem caixão
Corpo só, sem ter verniz.
Todo em comum com a terra
Só certezas, seiva e paz
Seu haver em sí se encerra
Depois disso é nada mais.
II
Enterrado em cova rasa
Vai virando a própria cova
Abandonando a velha casa,
Para tornar-se a nova.
Existe como matéria
Que é divina: não tem fim.
A alma, a casa velha
Não é tão eterna assim
Pois que agora ele é tudo
Só matéria imolesta
Ele é o osso que é escudo
E é os vermes em festa
A alma, este lar inviso,
O diabo que a carregue!
O corpo é que é o paraíso,
E a sí mesmo está entregue.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
ia fazer um comentário, mas você não ia gostar...
ResponderExcluir