Uma tela clara, tão clara,
Que a todas as cores desbota.
Que os meios-tons separa
E só os brancos ampara.
Uma tela branca, tão branca,
Que, ao contrário de realçá-las,
De todas as cores arranca
O dom de ser cor não branca.
Essa tela e nós dois
Num sereno lugar sem nome
Que se tivesse seria "depois".
Olhando a paisagem de arroz.
E é a essa alvura completa
Que nós chamaremos "passado"
Nada passou, a vida é uma reta
Sem drama, sem dores, sem meta.
E saudaremos o haver sumido:
Paroxismo do desbotado,
Vivemos sem ter vivido,
Cada qual absolvido.
Cada qual higienizado
De tudo que é tom de terra.
O encontro cauterizado,
O olhar oxigenado.
E então concordadermos:
"Nada houve", "Nada ficou",
E no branco que escrevemos,
O não escrito é que leremos:
Uma tela branca, tão branca
Que ceifa sem dor cada dor
E, sendo absolutamente franca,
Todas as palavras estanca.
Nós dois em silêncio.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
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foda. se disser algo além disso não será suficiente.
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