Continuação da saga do professor Olímpio versus o Horóscopo. Afirmo aqui que esta é uma obra de ficção que não necessariamente expressa o pensamento do autor, mas que pode fazê-lo quando este bem (des) entender. Para ler o princípio, ver o post embaixo deste aqui. Aí vai:
Era princípio de noite e a casa onde morava o astrólogo, que se chamava Jonas, fedia a xixi de gato. O Astrólogo, que se chamava Jonas, suspirou. Releu o que havia escrito e continuou sem conseguir se convencer de que estava bom.
"Capricórnio. Hoje seu dia será absolutamente maravilhoso. Cheio de margaridas em flor. Todos os seus planos darão certo. Você estará especialmente sagaz, bonito, bem humorado e potente sexualmente. A semana: Não se preocupe, tudo dará certo. Se quiser, pode caçoar das pessoas de outros signos".
Já tinha um mês que era assim; O tal do velho ligava pra ele e dizia mais ou menos o que ele tinha que escrever no signo de capricórnio. Só coisas boas. Ele ia lá, escrevia, e aparecia um monte de dinheiro na sua conta bancária. Ele não fazia perguntas, tinha uma mãe idosa e com um problema urinário sério (que aliás era o que deixava toda a casa pequena onde os dois moravam com aquele cheiro horrivel), e a grana era mais que bem vinda. Em todo caso constantemente perguntava aos astros, em quem ele possuia sincera e ferrenha crença, o que poderia mover o velho a agir daquela maneira. As respostas destes não eram nunca conclusivas.
O astrólogo, que se chamava Jonas, tornou a suspirar. Desde criança ele sentia que possuia uma afinidade com as nebulosas forças astrais, e consumiu sempre vasta literatura sobre o assunto. Quando começou a fazer mapas astrais, fez alguns de graça para amigos mais chegados e todos (inclusive ele) ficaram surpresos quando viram que seu trabalho possuia surpreendente exatidão. Todos os seus amigos, que ele previra ricos e felizes, de fato o acabaram sendo. O único mapa astral que ele errara na vida fora, pasmen!, o dele próprio. O mapa que fizera pra si indicava uma vida adulta confortavel, morando num lugar alto, perto da praia e com uma grande quantia de água. Desde esse momento preparado para uma cobertura em Ipanema, o astrólogo, que se chamava Jonas, se surpreendeu quando acabou numa ladeira lá pros lados da praia do Caju (imprópria pra banho) com um desagradavel pântano no terrendo baldio ao lado. Como consolo para sí próprio ele dizia que não errara nos indicativos astrais, e sim na interpretação destes.
Estava perdido nesses devaneios quando o telefone tocou.
-Alô?
-Sou eu, o Professor Olímpio.
-Boa noite, professor.
-Pra quem? Tô todo fudido de dor nas costas.
-Tudo bem, professor. A lua está em peixes,isso vai curar todas as suas dores físicas.
-Vai a merda. Eu não acredito nessas coisas. Mas tenho uma sobrinha que tá em dúvida se casa com um rapaz ou não. E o rapaz é um imbecil, faz faculdade de Letras. Faz o favor de botar aí no signo de Virgem, que é o dela, para "Não acreditar em babacas metidos a poetas que venham tentar de comer e roubar a sua grana". Ela acredita muito nessas baboseiras.
- Esse não é o nosso trato! Eu combinei de alterar só o signo de capricórnio! Meu trabalho é sério, não posso ficar alterando as coisas só por que o senhor quer, isso aqui não é casa da mãe Joana.
-Por falar nisso, como é que vai a mijona da sua mãe?
-Olha aqui, seu Olímpio, eu tenho leitores, tehnho uma responsabilidade para com eles...
-Cê tem conseguido pagar direitinho o remédio dela agora?
-As pessoas no jornal podem começar a estranhar...
Do outro lado da linha, o Professor Olímpio suspirou. Com alguma imaginação conseguia até sentir o horrível cheiro de mijo.
-Bota o que eu te falei. Vai pingar mais dinheiro na sua conta esse mês.
-Eu não sou uma prostituta!
-Alías, tava pensando o seguinte. Uma das coisas que eu mais odeio no signo de capricórnio é esse fato dele ser meio cabra meio peixe. Que porra é essa? Isso é esculhambação de vocês astrólogos. Faz favor de mudar o desenho dele pra uma coisa mais bonitinha, combinado? Se quer minha sugestão, o desenho pode ser o de um labrador. É que eu tinha um labrador quando eu era criança.
-Seu... Seu Olímpio, isso é uma abuso...
-Me amarro num labrador.
Desanimado, o astrólogo, que se chamava Jonas, conseguiu demover o Professor Olímpio da idéia do Labrador, explicando aque aquele desenho da cabra meio peixe era uma imagem convencionada desde muito tempo pra mudar abruptamente. Mas teve que concordar em colocar uma inserção sobre não confiar em falsos amantes no signo de virgem.
Quando desligou o telefone e foi mais uma vez dar o remédio para sua infeliz mãe, o astrólogo, que se chamava Jonas, não imaginava o que estava para acontecer na sua vida.
Foi na semana seguinte que começou a mudança. O telefone tocou e ele achou que fosse Olímpio outra vez
-Professor?
-Que professor, rapaz? Você é o astrólogo do "Berro do Povo"?
Ele pensou que havia sido descoberto, gelou. Mas foi honesto.
-S...Sim.
-O homem que eu estava procurando! Eu sou o reitor da Universidade Federal, e um professor daqui andou falando muito de você. Eu gostaria de pedir um favor. O senhor é discreto, não? A minha esposa está entrando na menopausa, sabe como é, estou com medo dela perder o fogo dela, mas ela respeita muito o horóscopo. Quero que durante os próximos doze meses você coloque coisas luxuriantes no signo de peixes, ok? Pago adiantado. E muito bem.
O astrólogo, que se chamava Jonas, fez silêncio do outro lado da linha. Decidindo, talvez, se os pontinhos que brilhavam incessantemente na sua cabeça eram estrelas ou moedas.
CONTINUA NO PRÓXIMO EPISÓDIO
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O presidente, que se chamava Lula, me ligou dizendo que gostou do que você escreveu. Pediu preu te falar.
ResponderExcluirmaneiro, né?
puxa cara, estou realmente gostando
ResponderExcluirvai andando bem com calma, a história desenrolando naturalmente, e está crescendo, já fico curioso ! este episódio com certeza está quente